Cinco livros de Roberto Bolaño, escritor latino-americano

Cinco livros de Roberto Bolaño, escritor latino-americano

Na lista dos 100 melhores livros até agora no século XXI do jornal norte-americano “The New York Times”, Roberto Bolaño teve duas menções (The Savage Detectives e 2666).

Ele é o escritor latino-americano com mais obras desse seleto grupo, selecionado por meio de pesquisa com mais de 500 escritores, poetas e críticos.
Quem foi Roberto Bolaño?

Roberto Bolaño, nascido em 28 de abril de 1953 em Santiago, Chile e falecido em 14 de julho de 2003 em Barcelona, ​​foi um escritor e poeta chileno, reconhecido como uma das vozes mais influentes da literatura contemporânea de língua espanhola. Seu trabalho abrangeu vários gêneros, incluindo poesia, romances e ensaios.

Na década de 70 fundou o movimento infrarrealista junto com o poeta Mario Santiago Papasquiaro, no México, que marcou suas primeiras explorações literárias.

Ao longo da sua carreira publicou vários romances que marcaram a literatura, com destaque para Los Detectives Savages (1998), que lhe valeu o Prémio Herralde de Romance, 2666 (2004), a sua obra póstuma, e Estrella Distant (1996).

Embora a sua produção tenha sido relativamente breve devido à sua morte prematura, a intensidade e profundidade da sua obra garantiram-lhe um lugar de destaque na literatura mundial.

Estes são alguns de seus livros mais reconhecidos e que o mantêm no gosto dos leitores contemporâneos.
1. Os Detetives Selvagens (1998)

Narra a busca por Cesárea Tinajero, escritora desaparecida no México nos anos seguintes à Revolução.

A trama acompanha Arturo Belano e Ulises Lima, dois jovens poetas conhecidos como os “detetives selvagens”, que durante 20 anos (de 1976 a 1996) embarcam em uma jornada cheia de amores, mortes, desaparecimentos e uma série de encontros e desentendimentos. diferentes países como México, Nicarágua, Estados Unidos, França, Espanha, Israel e muito mais.

Ao longo do romance, os protagonistas encontram personagens peculiares e diversos, como um fotógrafo espanhol à beira do desespero, um neonazista, um toureiro mexicano aposentado, uma prostituta adolescente, entre outros.

Esses personagens oferecem uma visão panorâmica da vida, da arte e da literatura da época.

A obra pode ser lida como um thriller literário repleto de humor e reflexão, e se destaca pela estrutura fragmentada e estilo único.

Segundo o crítico espanhol Ignacio Echevarría, é “um livro original e belo”, enquanto o escritor Enrique Vila-Matas o descreve como “uma fenda que abre brechas por onde circularão novas correntes literárias do próximo milênio”.
2. 2666 (2004)

Roberto Bolaño entrelaça as histórias de quatro professores de literatura que, unidos pelo fascínio pelo escritor alemão Beno von Archimboldi, empreendem uma viagem a Santa Teresa, cidade fronteiriça do México, em busca de pistas sobre ele.

O que começa como um jogo intelectual se transforma em tragédia quando descobrimos que a cidade é palco de crimes atrozes contra as mulheres, o que serve de porta de entrada para uma reflexão profunda sobre a violência, a literatura e a história do século XX.

O romance é um intrincado labirinto de histórias sobrepostas, levando o leitor numa viagem pela Europa, pelas ruínas da civilização e pelas tensões de um mundo em crise. Os críticos elogiaram a sua estrutura ambiciosa e a sua capacidade de fundir vários géneros literários.

Segundo a escritora e crítica americana Susan Sontag, Bolaño se estabelece como “o romancista de língua espanhola mais influente e admirado de sua geração”.

Por sua vez, o escritor argentino Rodrigo Fresán comenta: “O resultado é magnífico. O que se busca e se alcança aqui é o romance total, que coloca o autor de 2.666 na mesma equipe de Cervantes, Sterne, Melville, Proust, Musil e Pynchon.”
3. Chamadas telefônicas (1997)

Roberto Bolaño apresenta-nos histórias abertas e imprevisíveis, onde o que está para além da história é o verdadeiro enigma.

Cada narrativa tece uma trama complexa em que realidade e ficção se entrelaçam, criando figuras que devem ser descobertas.

Num dos contos, Sensini, escritor sul-americano exilado, ensina a um jovem autor os truques dos prémios literários provinciais, evocando a sombra de autores como Onetti e Moyano. Em outra, Joanna Silvestri, ex-diva do cinema pornô, relembra seu relacionamento com Jack, personagem que nos lembra um verdadeiro ator deste circuito.

Os personagens se entrelaçam em histórias de desenraizamento, identidade e paixão, por exemplo “El Gusano”, um homem armado no México, fala todas as línguas indígenas e fascina um jovem desiludido com a vida convencional; ou William Burns, um americano que se vê envolvido numa história de relações triangulares e assassinatos equivocados.

A obra de Bolaño mantém um diálogo constante com o humor e a sagacidade, como destaca a crítica literária chilena Patricia Espinosa em La Época de Chile: “Roberto Bolaño de repente nos coloca como um dos melhores narradores chilenos”.
4. Estrela Distante (1996)

O narrador lembra-se de ter visto um homem pela primeira vez em 1971 ou 1972, quando Salvador Allende ainda era presidente do Chile.

Esse homem, que se autodenominava Ruiz-Tagle, transitava com cautela pelas oficinas literárias da Universidade de Concepción, escrevendo poemas distantes e seduzindo mulheres, ao mesmo tempo que despertava uma inexplicável desconfiança nos homens.

Depois do Golpe, o narrador reencontrou-o, mas ainda não sabia que o aviador Wieder, soldado que escrevia versículos bíblicos a partir de um avião, e Ruiz-Tagle, o perturbador poeta, eram a mesma pessoa.

Esses versos eram lidos nos estádios, onde os presos os ouviam, enquanto os poetas que ele havia seduzido, como as irmãs Garmendia, desapareciam.

A história que se desenrola é a de um homem de vários nomes, um impostor cujo único propósito era a estética. Um dândi do terror, assassino e fotógrafo do medo, que levou sua arte às últimas e fatais consequências.
5. Literatura nazista na América (1996)

Esta obra é, segundo o próprio Bolaño, uma “antologia vagamente enciclopédica da literatura filo-nazista produzida na América de 1930 a 2010”.

Nele, o escritor cria uma obra engenhosa que, por meio de resenhas fictícias de autores inventados, parodia a história da literatura ibero-americana.

O livro imita dicionários literários, mas em vez de autores reais, apresenta figuras extremistas, racistas e fanáticas, todas associadas ao fascismo.

Segundo o crítico literário espanhol J. A. Masoliver Ródenas, a obra mostra uma brilhante capacidade de criar personagens e situações, misturando cultura, humor e imaginação.
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