O expoente do modernismo na América Latina

O expoente do modernismo na América Latina

França homenageia Tarsila do Amaral com a maior exposição de sua obra na Europa

 Até 2 de fevereiro, o expoente do modernismo na América Latina é protagonista no Museu de Luxemburgo.
 A exposição Tarsila do Amaral, pintando o Brasil moderno reúne 150 obras, entre 49 telas e 64 desenhos.
Expoente do modernismo na América Latina e uma das figuras culturais mais influentes da história do Brasil, a pintora Tarsila do Amaral (1886-1973) já realiza uma grande exposição na Europa, consagrada pelo Museu de Luxemburgo, em Paris, de deste 9 de outubro a 2 de fevereiro de 2025, quase cem anos depois da exposição que o deu a conhecer naquela mesma capital.
A exposição, que reúne 150 obras, entre 49 telas e 64 desenhos, é também uma das mais completas sobre o artista brasileiro, ao lado de Tarsila Popular (2019), no Museu de Arte de São Paulo (MASP), e da exposição 2018. retrospectiva no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA).

A exposição parisiense, intitulada Tarsila do Amaral, pintando o Brasil moderno, também viajará para o Guggenheim de Bilbao no primeiro trimestre de 2025, disse a curadora da exposição, Cecilia Braschi.
“É uma retrospectiva que abrange toda a sua carreira, do início ao fim”, disse este especialista em arte sul-americana do século XX. E acrescentou que o objetivo é “fugir deste discurso um tanto simplista que seria que os artistas estrangeiros vêm a Paris, aprendem a modernidade e vão embora”.
“A jornada, ao contrário, mostra que essa relação é muito mais complexa e que não teria existido um projeto moderno da Tarsila se ela não tivesse chegado com uma formação brasileira moderna própria, que está se formando naquele momento”, disse ele. adicionado.

O palco parisiense faz parte da exposição; o do movimento antropófago – um dos alicerces da identidade brasileira que defendia o enriquecimento a partir da cultura própria e ocidental; o período comunista; e a fase dedicada ao desenvolvimento do Brasil.
Culturalmente mais francês

Nascida em uma família de proprietários de terras no interior de São Paulo, região que já começava a despontar como centro econômico e financeiro no início do século XX, Tarsila cresceu "como todas as meninas da aristocracia brasileira da época". . Ela era culturalmente mais francesa do que brasileira", disse Braschi.
Bilíngue, a jovem artista passou o primeiro ano na capital francesa, de 1921 a 1922, estadia da qual, como ela mesma confessou, regressou “sem nenhuma informação interessante”, mas “com alguns vestidos bonitos”.

Foi a partir de 1922, ao retornar a São Paulo, logo após a celebração da Semana de Arte Moderna daquele mesmo ano (um marco da cultura brasileira), que o talento de Tarsila “explodiu”, segundo o curador.

Os seus dois autorretratos de 1923 e 1924 são uma amostra da influência parisiense, mas também o início de um estilo inconfundível, exuberante nas cores e contundente nas formas.

Tarsila formou, junto com seu então companheiro, o poeta e ensaísta Oswald de Andrade, "a dupla do modernismo brasileiro". Ela na pintura e ele na literatura.

'A Cuca' (1924), 'Carnaval em Madureira' (1924) e 'Urutu' (1928) são algumas das pinturas que captam os costumes e o folclore brasileiro que se tornariam a base da identidade cultural do jovem país. A curadora Braschi chamou a atenção pela forma como representa os negros.
"Sua maneira de retratá-los hoje gera polêmica. Alguns veem isso como um estereótipo racista e sexista. A pintora faz isso a partir de uma perspectiva em que os negros tinham uma posição de subordinação", explicou.

Um exemplo é 'A Negra' (1923), pintura a óleo com traços de primitivismo em que é retratada uma mulher negra com seios enormes, inspirada em uma ex-escrava que amamentou Tarsila.
Preso como comunista

Após encerrar o relacionamento com Oswald de Andrade no final da década de 1920, a pintora entrou em uma nova fase, aquela marcada pela viagem à União Soviética com seu novo companheiro, o psiquiatra Osório César.

Coincidindo com a quebra do mercado de ações de 1929 e o colapso da economia ocidental, Tarsila mudou para um tom mais sombrio e pessimista, influenciado pelo realismo social e pelo muralismo mexicano.
Opérarios (1933), uma homenagem à classe trabalhadora de uma São Paulo em plena revolução industrial, é uma das telas emblemáticas dessa fase.

“Naquela época Tarsila não tinha mais o apoio do pai, que havia falecido, e ela estava com problemas financeiros. Ela teve que trabalhar, algo que ela nunca tinha feito antes”, disse Braschi.

Seu proselitismo comunista a levou a uma das experiências mais traumáticas de sua vida: ficou presa por um mês em 1932, durante o governo Gétulio Vargas.
Em seu último período artístico, coincidindo com o início de seu relacionamento mais longo, com o jornalista carioca Luiz Martins, a pintora capturou o desenvolvimentismo da cidade de São Paulo, que entre 1920 e 1960 cresceu exponencialmente alimentada por diferentes ondas de imigrantes vindos da Europa , Ásia e Oriente Médio. ‘A Metrópole’ (1958) capta a selva urbana que sua cidade se tornou.

Tarsila do Amaral, Pintura Brasil Moderno possui empréstimos de diversos museus brasileiros e colecionadores particulares.
No entanto, falta em Paris uma de suas obras-primas, 'Abaporu' (1928), exposta no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba). “Para eles ela é como a Mona Lisa, eles não a deixam sair”, confessou Braschi.
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