De 6 a 9 de março, realizou-se em Madrid a chamada Semana da Arte, onde se realizaram diversas feiras que coincidiram com algumas exposições de destaque em museus, fundações, centros culturais e galerias de arte. Tudo isto suscitou um enorme interesse em testemunhar estes acontecimentos por parte de um público proveniente de várias cidades do país, bem como do estrangeiro, o que colocou a capital espanhola no epicentro artístico mundial.
Em qualquer caso, focar-nos-emos apenas em duas das feiras, ARCO e Art Madrid, pois ambas apresentam propostas muito diferentes, mas que ao mesmo tempo são complementares, o que permite ao visitante, colecionador ou não, observar ou adquirir obras de artistas de porte internacional a preços altíssimos e acessíveis a todos.
ARCO. Uma das mais importantes feiras internacionais na área da arte contemporânea
A ARCO já completou 44 edições, sendo uma das feiras internacionais mais antigas. Nesta edição, cerca de 100 mil visitantes compareceram nos cinco dias de duração da feira. No total participaram 214 galerias - entre elas cinquenta da América Latina - de 36 países, das quais 178 expuseram seus trabalhos no Programa Geral, as demais foram integradas em Wametisé: ideias para um amazofuturismo, Perfis/Arte Latino-Americana e Abertura. Novas galerias. Da mesma forma, estiveram presentes stands de Espaços Culturais, Media e sobretudo da Feira Internacional do Livro de Artista e Edição Contemporânea ArtsLibris, com a presença de uma centena de editores de vários países e que este ano celebrou a sua décima edição em Madrid, já que a ArtLibris também se apresenta noutras cidades, como Barcelona, cidade de onde surgiu inicialmente, Lisboa e Guadalajara mexicana, que celebra a sua primeira edição.
É importante destacar que diversas instituições, incluindo o Ministério da Cultura espanhol e o Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, têm adquirido diversas obras, preferencialmente de mulheres, com a ideia de reforçar, ou melhor, de corrigir, o défice que os museus têm nesta área. A título de exemplo, a Reina Sofía conta apenas com 13% de mulheres artistas tendo em conta que o seu acervo ronda as 25.000 obras.
É necessário destacar também que nesta edição não houve polêmica ao contrário dos anos anteriores, já que as obras que tiveram alguma cobertura mediática foram poucas e bastante anedóticas, como é o caso da peça Lavagem branca do artista conceitual Eugenio Merino, que todos os anos apresenta uma obra polêmica, sempre da galeria ADN de Barcelona. Nesta obra aparecem uma série de 16 figuras políticas atuais que são amplamente discutidas em todo o mundo, como, entre outros, Trump, Milei, Musk, Le Pen, Abascal, Meloni e Netanyahu. Seus rostos são impressos em pratos colocados na máquina de lavar louça. O artista ressalta que “a provocação deve estar na arte. Toda obra desafia alguma lógica”. A obra foi vendida por 22 mil euros.
Como é muito difícil e complexo comentar aqui a maioria das propostas das galerias que participaram, gostaria apenas de me referir àquelas que me pareceram mais interessantes ou que pelo menos levantaram aspectos que representam o que há de mais vanguardista na arte que um evento como este merece, principalmente no espectro latino-americano, como é o caso da galeria Zielinsky que tem dois escritórios, um em São Paulo e outro em Barcelona, que expôs o trabalho de quatro artistas: o panamenho Cisco Merel, os brasileiros Vera Chaves e Denise Milan e o chileno Felipe Mujica. Todos pertencem a gerações diferentes, mas têm em comum o fascínio pela abstração através de diferentes materiais e técnicas. Além disso, são atraídos pelas tradições ancestrais numa perspectiva artesanal e popular.
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