As pinturas roubadas foram devolvidas ao Peru

As pinturas roubadas foram devolvidas ao Peru

Os EUA devolvem ao Peru pinturas roubadas em Puno que seriam leiloadas em Nova York

Em outubro de 2023, o OjoPúblico forneceu provas fundamentais que permitiram interromper o leilão de duas pinturas horas antes da sua execução e agilizaram o processo de recuperação. As obras foram roubadas em fevereiro de 2012 na paróquia Nuestra Señora de la Asunción, no distrito de Chucuito.

As autoridades dos Estados Unidos devolveram ao Peru duas importantes telas da Escola de Cusco que foram reportadas como roubadas durante mais de dez anos, até que em outubro de 2023 reapareceram num lote que foi colocado à venda por uma casa de leilões de Nova Iorque. As pinturas, que saíram ilegalmente do país em data desconhecida, pertencem à paróquia de Nuestra Señora de la Asunción, no distrito de Chucuito, Puno, e foram detectadas na cidade americana no âmbito de uma investigação do OjoPúblico sobre o tráfico de bens culturais do Peru.

São as pinturas A Fuga para o Egito e Nossa Senhora da Misericórdia, que a Doyle House, de Manhattan, anunciou como parte de uma venda de arte latino-americana de diferentes épocas e estilos. A venda foi suspensa pouco antes da hora anunciada pela própria empresa, após receber do OjoPúblico provas conclusivas de que se tratavam de duas obras roubadas do Peru em fevereiro de 2012. Entre a documentação fornecida por este meio estavam imagens de um inventário manuscrito que registrava a existência de das obras na igreja de Puno em 2004, e dos registros de campo feitos em 2003 por especialistas do INC, com fotos das obras como estavam na época.

A comparação das imagens antigas com as expostas no site de leilões deixou poucas dúvidas entre os especialistas em arte consultados na época para esta investigação.
Conforme noticiado por este meio em uma primeira reportagem sobre o caso, as obras também apareceram em um alerta de furto emitido pelo Ministério da Cultura que circulou internacionalmente em 2015. Ali se percebe que ambas as peças faziam parte do roubo de 16 objetos do patrimônio histórico do templo, entre os quais estavam coroas, poderes e seis telas. As pinturas recuperadas seriam vendidas por preços entre 7 e 12 mil dólares.

O caso motivou a intervenção da Unidade de Tráfico de Antiguidades do Ministério Público de Manhattan e da unidade de investigação da agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos. O anúncio da repatriação foi feito hoje em cerimônia que contou com a presença de representantes de ambas as entidades e da Embaixadora Marita Landavery, Cônsul Geral do Peru em Nova York.
Este é um caso incomum de recuperação de objetos culturais colocados à venda nos mercados de arte internacionais. Geralmente, a falta de documentação suficiente e oportuna impede a comprovação da origem de obras e objetos patrimoniais, que acabam em mãos privadas.

“Estamos orgulhosos do papel ativo que desempenhamos na recuperação destas duas obras de arte”, disse Louis LeB. Webre, diretor da casa Doyle, em depoimentos publicados pelo site Artnet, especializado em cobertura do mercado de arte internacional.

Trata-se de uma recuperação semelhante à ocorrida em 2022 numa tela da Virgem de Guadalupe, que foi roubada de uma igreja em Ollantaytambo, em Cusco, e permaneceu perdida até que o OjoPúblico detectou a obra numa igreja católica na Califórnia. Depois, este meio também apresentou provas que permitiram a sua recuperação nos Estados Unidos, juntamente com um lote de bens culturais roubados em diversos momentos.

“Ninguém consegue impedir os saques – a ganância humana é muito grande – mas juntos podemos fazer a diferença”, disse ao OjoPúblico fonte da Unidade de Tráfico de Antiguidades da Procuradoria de Manhattan, que acompanhou o caso das pinturas de Puno desde o início.