A arte é essencial para mostrar que a gente existe

A arte é essencial para mostrar que a gente existe

Nei Leite Xakriabá: "A arte é essencial para mostrar que a gente existe"

Professor indígena destaca a importância de preservar e transmitir as tradições na luta contra o preconceito e por mais direitos das populações originárias
Nei Leite Xakriabá vive na Aldeia Barreiro Preto, umas das mais de 35 existentes na Terra Indígena Xakriabá. Graduado em educação indígena pela UFMG, o artista atuou no ensino de jovens xakriabás em disciplinas que mantêm viva nas escolas a cultura tradicional do seu povo.
Em sua dissertação de mestrado “Arte Indígena Xakriabá: com um pé na aldeia e outro pé no mundo”, Nei Leite discute seu trabalho com cerâmica e a transmissão de hábitos e costumes como uma forma de resistência da cultura indígena e de dar visibilidade à luta do povo.

É um dos artistas cujo trabalho é apresentado na exposição “A água é mãe da terra”, no Museu de Artes e Ofícios, na Praça Rui Barbosa, Centro de BH, até 4 de novembro. Ele falou ao EM em seu atelier na terra indígena sobre a importância da perpetuação da cultura na luta dos xakriabás. Leia abaixo os principais pontos da entrevista.

Como a retomada dos trabalhos com cerâmica ajudou na educação de jovens indígenas?

Atuei por mais de 20 anos como professor nessa área de artes e práticas tradicionais e um dos trabalhos que eu tenho feito é retomar as práticas com a cerâmica. Conversando com os mais velhos e desenvolvendo oficinas com as crianças para tentar trazer de volta essa prática que, no passado, era bastante presente. A cerâmica circulava muito nas casas das pessoas, o pote, a panela, esses objetos que com o tempo e com essas violências todas que aconteceram no nosso território foram se perdendo. A gente foi se interessando mais para esses objetos industrializados de plástico e alumínio que provocam muito prejuízo também o meio ambiente.

Esse também é uma forma de gerar renda. Eu já participei de algumas exposições e feiras fora também do município. Já fiz algumas viagens para outros estados, inclusive fui para Europa em 2022 para participar de um workshop, fiz uma exposição online na Turquia. Agora mesmo enviei umas peças pra bienal de arte da América Latina que vai acontecer na China. Então assim, é uma prática que estava adormecida e hoje voltou com força.

O ensino de práticas tradicionais pode ser uma alternativa para gerar renda dentro da Terra Indígena? Qual o impacto de seu trabalho nesse sentido?

Esse meu trabalho com a cerâmica tem muito a ver com a relação que a gente tem com os animais, com a terra e com a própria água. Quando pensei em fazer a moringa, pensei muito nessa coisa assim de que ela é utilizada para armazenar água e, para nós, a água é um grande problema. Nosso cerrado é meio que uma grande esponja de absorver a água, mas essa água, com essa questão da falta de chuva ou o próprio desmatamento que tem aumentado, secou. Nem essa esponja ela tem alimentado.

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https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2023/10/04

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