Exposição do artista argentino de 96 anos em Madri

Exposição do artista argentino de 96 anos em Madri

Julio Le Parc conquista o tempo: “Sou uma pessoa com um certo otimismo.”
Aos 96 anos, o notável artista argentino apresenta a exposição "In Motion" em uma galeria de Madri. “Meus trabalhos refletem isso. “Ser positivo também é uma forma de resistência”, diz ele.
Depois de mais de três décadas sem uma exposição individual em Madri, Julio Le Parc (Mendoza, 1928) retorna com En movimiento, uma ambiciosa exposição na galeria Albarrán Bourdais, no bairro boêmio de Chueca. A exposição, que pode ser visitada até 26 de abril, reúne mais de vinte obras que abrangem sua produção desde a década de 1970 até os dias atuais, oferecendo um panorama abrangente da carreira de um dos maiores expoentes da arte cinética e da op art.

Para Le Parc, 96, esta exposição não é apenas uma retrospectiva, mas uma oportunidade de continuar desafiando a percepção do espectador. “A arte não precisa ser algo passivo. "Quero que o espectador se mova, participe, descubra", disse ele em entrevista ao jornal espanhol El País Semanal.

 


As obras selecionadas para In Motion incluem estruturas móveis de grande escala, relevos históricos e séries pictóricas que refletem sua experimentação contínua com luz e cor. A exposição começa com Sphère bleu foncé (2013), uma imponente estrutura de 220 cm de diâmetro composta por centenas de peças azuis semitransparentes, que transformam o espaço por meio de reflexos dinâmicos. “O movimento permite que o trabalho nunca mais seja o mesmo. “Ela muda com a luz, com o olhar do observador, com o tempo”, explicou o artista, que mora em Paris desde a década de 1960 e atualmente tem mobilidade limitada após um derrame sofrido em 2023.
Outra peça-chave é Relief couleur (1973), um relevo em madeira que remonta aos seus estudos sobre percepção que começaram na década de 1960. Também são apresentadas as séries Ondes e Série 16, onde Le Parc estabelece limites rígidos em sua paleta de cores — reduzida a quatorze cores, mais branco, preto e cinza — para explorar o potencial expressivo de cada matiz.
Uma das peças centrais mais especiais da exposição é a série Alquimias, iniciada em 1958, quando o artista mendocino ainda morava em Buenos Aires. Nesta exposição, obras recentes dialogam com criações dos anos 1980, fazendo a ponte entre diferentes fases de sua produção. “Sempre me interessei pela ideia de transformação. “A alquimia, como nessas obras, é um processo contínuo, uma mudança constante”, observou Le Parc.
De Buenos Aires a Paris

Le Parc iniciou sua formação em Buenos Aires, embora sem um caminho claro na arte. “Ser artista não estava na minha cabeça. Mas minha mãe se lembrou que uma professora lhe disse que eu desenhava bem, e ela foi perguntar na Academia de Belas Artes”, contou na longa entrevista à revista dominical do jornal El País. Depois de passar no vestibular, ele conta que iniciou sua formação acadêmica, mas logo entrou em conflito com os métodos tradicionais.
Sua rebeldia o levou a Paris em 1958, após obter uma bolsa de estudos do governo francês. Lá, ele entrou em contato com a arte óptica e cinética e ficou impressionado com o trabalho de Victor Vasarely. “Quando vi sua exposição em Buenos Aires, mudei de ideia. Em Paris, fui vê-lo com outros jovens artistas, e foi aí que tudo começou", ele lembrou.

Na capital francesa, junto com outros artistas latino-americanos, fundou o coletivo GRAV, um grupo dedicado à experimentação visual e à interação com o público. Sua pesquisa sobre movimento e luz o levou a ganhar o Grande Prêmio Internacional de Pintura na Bienal de Veneza em 1966. No entanto, seu ativismo político lhe custou a expulsão da França em 1968, depois de apoiar greves de trabalhadores e criar cartazes antigovernamentais. “Eu tomei isso como algo natural por causa dos meus princípios e ideias”, disse ele sem nostalgia.
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