Myra Landau no MUAC e a arte da geometria sensível

Myra Landau no MUAC e a arte da geometria sensível

A exposição “Geometria Sensível” redescobre a obra de Landau e seu impacto na arte latino-americana. Defende-se também uma maior visibilidade das artistas femininas.
Myra Landau abordou a geometria como uma extensão do corpo, desenvolvendo uma “geometria sensível” que desafia as rígidas convenções da arte. Seus traços, executados à mão livre, parecem respirar, dotados de um movimento orgânico em que gesto e corporeidade se fundem em cada obra.

Esta obra encontrou seu lugar no Museu Universitário de Arte Contemporânea (MUAC) com a exposição Myra Landau. Geometria sensível. Embora Landau fosse uma figura pouco reconhecida no México, a sua obra foi redescoberta nesta exposição monográfica que destaca a sua profunda ligação com a arte latino-americana e o seu espírito radicalmente experimental.

Em entrevista ao Reporte Índigo, a curadora Pilar García explica que a exposição, que pode ser visitada até fevereiro de 2025, é o resultado de mais de uma década de dedicação ao trabalho da artista e do questionamento de por que, apesar de seu inegável talento, Landau foi marginalizada do cânone artístico mexicano, historicamente dominada por figuras masculinas.
“A ideia surgiu quando, junto com Cuauhtémoc Medina e Olivier Debroise, organizamos a exposição A Era da Discrepância em 2007. Tive interesse em explorar a obra de Landau, um artista pouco conhecido que não fazia parte do círculo dos artistas geométricos no México. Foi um enigma entender por que Myra Landau havia sido invisibilizada no cânone artístico, principalmente quando seu trabalho enriqueceu o campo da abstração a partir de uma sensibilidade única”, explica.
Sua reivindicação com mulheres artistas

O processo de pesquisa, que contou com a colaboração da filha de Landau e o acesso ao seu arquivo pessoal, permitiu reconstruir sua passagem pelo México e suas contribuições internacionais. Esta colaboração foi crucial, uma vez que o arquivo da artista continha fotografias, cartas e obras que contextualizam a sua importância a nível nacional e internacional.

“A exposição é uma viagem por mais de 60 anos de produção, tanto em nosso país quanto nas nações onde viveu e trabalhou, com o propósito de inseri-la no contexto cultural mexicano e latino-americano”, afirma a também curadora do a Coleção MUAC Artística.

As pinturas incluídas foram trabalhadas em pastel sobre linho cru e são abstrações geométricas criadas à mão livre, cujas tramas lembram tecidos tradicionais, pentagramas ou labirintos. Eles aparecem juntos pela primeira vez.

Do período no Brasil são expostas obras relacionadas às liberações ópticas, características da arte daquele país.

“A exposição está montada cronologicamente, o que nos permite observar as mudanças e a busca constante de Landau pela experimentação. Seus movimentos geográficos também refletem uma mudança em suas linguagens plásticas em direção a novas formas de abstração”, menciona García.

O título da exposição remete à noção utilizada pelo crítico brasileiro Roberto Pontual na exposição coletiva Geometria sensível de 1978 para falar de uma forma de abstração que se afasta da linha dura e do compasso rigoroso.

Embora esta exposição seja um primeiro passo para resgatar seu legado, ainda há muito a ser investigado, principalmente em torno de sua produção poética, que também é citada na exposição por meio de livros de artista.

“O que Myra faz é enriquecer o campo da geometria com uma geometria sensível, mais gestual e com o corpo envolvido na criação. Através de grandes telas, seus traços convidam o corpo do espectador a entrar na pintura, qualidade que faz a diferença na arte geométrica que conhecemos. A obra de Landau desafia a geometria rígida e se conecta com a arte latino-americana, particularmente com o concretismo brasileiro”, acrescenta.
A exposição também busca dar visibilidade a outras mulheres artistas que, como Landau, foram relegadas ou sub-representadas nas coleções de arte. “É um grão de areia construir uma história da arte onde as mulheres tenham mais presença”, afirma García.

“Esta exposição monográfica é a primeira dedicada exclusivamente à sua carreira visual e há mais de 10 anos que há o interesse do MUAC em tornar visível o trabalho de tantas mulheres que ficaram escondidas na História da Arte”, explica a curadora.
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