Encontros locais de arte na América Latina: pesquisa e colaboração no México
Esta série de atividades organizadas pela Curatoria Forense – América Latina, promete ser uma oportunidade única para os interessados na arte contemporânea e seu desenvolvimento nas diversas cenas locais da América Latina, oferecendo um espaço de reflexão, colaboração e crescimento conjunto.
Cidade do México, México – De 4 de maio a 8 de junho de 2024, a América Latina será palco de uma série de atividades que visam aprofundar a compreensão e a gestão da arte contemporânea na região. Esta iniciativa, organizada pela Curadoria Forense - América Latina e uma rede de colaboradores, é resultado de uma extensa pesquisa iniciada em 2005 e que mapeou mais de 141 cenas artísticas locais em mais de 20 países latino-americanos.
Desde 2011, foram realizadas reuniões semelhantes na Argentina, no Chile, no Brasil e no México, além de inúmeras conversas em outros países da América Latina. Um marco importante foi a experiência NODOS, organizada pelo Patronato de Arte Contemporáneo do México e coordenada por Christian Gómez, com quem trabalhou no ano passado a Curadoria Forense – América Latina.
As atividades no México começaram com um encontro online no dia 4 de maio e continuarão com eventos presenciais em diversas cidades do país. Nos dias 24 e 25 de maio, Guadalajara acolherá um encontro que reunirá artistas, curadores e gestores culturais em torno de seis atividades, entre conferências, palestras e workshops. Posteriormente, de 28 de maio a 6 de junho, acontecerá uma residência artística em Puebla, oferecendo um espaço de colaboração e intercâmbio criativo. Por fim, Guanajuato sediará a última reunião nos dias 7 e 8 de junho. Estas atividades são organizadas em colaboração com Uberbau_house (São Paulo, Brasil), Casino Petrolero (Puebla, México), Aparato de Arte (Guanajuato, México), Universidade Iberoamericana Puebla, Universidade de Guanajuato, Museu Cabañas em Guadalajara, VADB – Arte contemporânea latino-americana e AÇÃO AFIRMATIVA.
O objetivo central destas atividades é implementar ferramentas práticas de pesquisa para compreender como a arte é produzida, circulada e gerida em cenas locais na América Latina. A iniciativa concentra-se em núcleos como Gestão Autônoma da Arte, Arte e Processos Sociais, Associatividade e Direitos Trabalhistas dos Trabalhadores da Arte. Também são exploradas as relações com as comunidades, a geração de espaços de diálogo e colaboração e as políticas públicas para a cultura e as artes.
Durante o encontro virtual do dia 8 de maio, foram discutidos os primórdios desta pesquisa, que se baseia nas conceituações de teóricos críticos e curadores como Justo Pastor Mellado e Rodolfo Andaúr do Chile, Gabriel Peluffo do Uruguai, e Jorge Sepúlveda e Ilse Petroni, com a colaboração de Guillermina Bustos. Esta pesquisa busca compreender como a ideia de “cenas locais” traz particularidades e singularidades ao sistema artístico em territórios específicos, envolvendo não apenas artistas, mas também curadores, gestores, professores e organizações diversas, incluindo espaços autônomos e centros culturais.
Dois censos latino-americanos realizados em 2015 e 2020, no âmbito da iniciativa Art Workers, revelaram que mais de 87% das pessoas que trabalham com arte na América Latina o fazem em cenários locais, fora das capitais. Segundo Guillermina Bustos, uma das organizadoras, isso evidencia a urgência de discutir as condições de trabalho nessas cenas e a necessidade de dignificar o trabalho artístico.
Mapa de Cenas Locais da América Latina, versão 1.4, publicado em maio de 2024, o mapa reúne 141 Cenas Artísticas, em 20 países. Imagem cortesia de Curadoria Forense - América Latina
“Um aspecto importante desta iniciativa é distinguir entre cenas hegemônicas, como capitais de países (por exemplo, Cidade do México), e cenas locais em cidades como Guanajuato, Puebla e Guadalajara. Nessas cidades é reconhecida a existência de comunidades artísticas menores, onde a infraestrutura é menor, mas a produção artística ainda é significativa”, afirma Guillermina Bustos, uma das organizadoras. Bustos também menciona como a economia laranja afetou o desenvolvimento de obras de arte autônomas, padronizando práticas tradicionalmente próprias de cada contexto local.
Apesar destes desafios, existem práticas de resistência eficazes que produziram mudanças estruturais nas cenas locais. Exemplos notáveis incluem La Curtiduría em Oaxaca, que aplica uma lógica de pedagogia paralela à arte contemporânea, bem como o trabalho de Aparato de Arte e do Alterna Research Group em Guanajuato, que não só realizaram pesquisas históricas da cena local, mas também propôs políticas públicas para financiar projetos contextuais.
“Um dos principais desafios é a precariedade do trabalho artístico nas cenas locais, diz Bustos. É preciso estabelecer padrões de profissionalização e novas formas de economia da arte que vão além da venda de obras em galerias, destacando a importância da pedagogia, da gestão e de outras formas de circulação artística.” Bustos sugere que a criação de redes entre cenas locais da América Latina e de outras partes do mundo poderia ajudar a valorizar essas produções fora dos circuitos hegemônicos do mercado de arte.
Essas atividades prometem ser uma oportunidade única para os interessados na arte contemporânea e seu desenvolvimento nos diversos cenários locais da América Latina, oferecendo um espaço de reflexão, colaboração e crescimento conjunto.
Para mais informações sobre essas atividades e seu impacto no cenário artístico latino-americano, visite [Curadoria Forense]