Bienal de Arte de Cuenca, no Equador

Bienal de Arte de Cuenca, no Equador

Migração, violência e democracia são eixos da Bienal de Arte de Cuenca, no Equador

“Buscamos uma melhoria da democracia baseada na utopia da arte, em acreditar que algo vai mudar e algo vai melhorar”, explicou Hernán Pacurucu, diretor da 16ª Bienal de Cuenca chamada “Talvez amanhã”.
A décima sexta edição da Bienal de Cuenca tem como título "Talvez Amanhã" e tem curadoria do curador hispano-argentino Ferran Barenblit

Mesas de pingue-pongue feitas com drogas apreendidas, gaiolas com balões que representam crianças em processos migratórios, uma constituição para a natureza ou um imenso quadro escolar de antigamente, são algumas das obras que compõem a Bienal de Cuenca (Equador), uma das mais importante na América Latina.
A décima sexta edição intitulada Maybe Tomorrow, do curador hispano-argentino Ferran Barenblit, reúne 34 artistas da Alemanha, México, Argentina, Espanha, Canadá, Chile, Equador, Estados Unidos, Reino Unido, Paraguai e Brasil, entre outros países .
Talvez amanhã seja uma bienal que reflita sobre a crise da democracia e os conflitos do presente, com especial ênfase na América Latina, indicou Hernán Pacurucu, diretor da Bienal de Cuenca.
“Não buscamos um aprimoramento da democracia a partir da política, mas sim, da utopia da arte, daquela ideia de construir metáforas (...) de acreditar que algo vai mudar e algo vai melhorar ," ele explicou.
Hernán Pacurucu é diretor da Bienal de Cuenca (EFE/José Jácome)

Esta edição da Bienal de Cuenca foi estruturada em duas partes: a exposição oficial, com a participação de 29 projetos de 18 países; e as exposições paralelas, nas quais participaram 17 artistas equatorianos, que estão expostos em diversos museus e galerias do centro histórico de Cuenca, declarado patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO.
Com oito salas e inaugurada no dia 8 de dezembro, a Bienal oferecerá até 8 de março videoartes, desenhos, instalações, murais, performances, objetos de arte e peças que abrem dinâmicas de arte lúdica, nas quais o público interage, desenha e brinca.

Droga feita pingue-pongue

“A arte está num processo, não mais de observação, de análise, mas sim de intervenção”, disse Pacurucu, comentando que o público joga em mesas de pingue-pongue construídas com drogas confiscadas.
E quando a artista mexicana Teresa Margolles (Sinaloa) soube que as autoridades equatorianas decidiram fazer blocos de cimento com cocaína confiscada, apresentou um projeto para utilizar esse material numa expressão artística, e assim construiu mesas de pingue-pongue, que mais tarde irão ser deixado em parques.

Para os visitantes – disse Pacurucu – o que mais chama a atenção é o fato de “poderem brincar com algo que poderia estar causando mortes”, o que estabelece um diálogo diferente “entre a violência e a felicidade, entre a morte e a vida”, disse ele. refletido.

A Bienal, que recebeu 30 mil pessoas no seu primeiro mês, também tem entre as suas obras uma gaiola gigante dentro da qual flutuam balões cinzentos em forma de coração, no que é uma metáfora “para crianças trancadas nas fronteiras”, narrou.

Destacou a engenhosidade com que o artista trata um tema “tão difícil” e “o torna tão sublimemente poético, vendo corações trancados que não sabem para onde ir”. É comovente e uma “forma de denúncia do que está acontecendo e de como todos fechamos os olhos”, comentou.

Entre as obras interativas está uma instalação pintada no verde característico das lousas de antigamente, como um “exercício de imposição de um formato educativo”, e com a obra o visitante é convidado a escrever sua própria história com giz.
Para Hernán Pacurucu, a arte reunida na Bienal “leva o visitante a um mundo mais inspirador” (EFE/José Jácome)
Para Hernán Pacurucu, a arte reunida na Bienal “leva o visitante a um mundo mais inspirador” (EFE/José Jácome)

Um mundo mais inspirador

A Bienal de Cuenca, a segunda mais importante da América Latina depois da de São Paulo (Brasil), segundo Pacurucu, acontece no momento em que o presidente do Equador, Daniel Noboa, declarou a existência de um “conflito armado interno” contra as máfias do crime organizado, que ele classifica como “terroristas”.

Para Pacurucu, o projeto se enquadra bem neste momento porque, em vez de acentuar essa violência, leva o visitante “para um mundo mais inspirador, tira aquela dura realidade para dizer: ‘Há esperança, há utopia, outro mundo é possível.' ".

A Bienal traz uma discussão sobre esperança e passeios de bicicleta pelos espaços para que a rotina do cidadão seja apaziguada por outras formas de perceber o mundo nos termos da arte.

“Todos nós precisamos de mais arte para criar seres humanos melhores. E o mundo da arte nas suas metáforas, nas suas metonímias, nas suas utopias, gera aqueles grandes mundos de criatividade que encontram outra forma de escaparmos deste mundo”, concluiu.

Fonte: EFE