Exposição no Centro MariAntonia contrasta o artesanal e o industrial

Exposição no Centro MariAntonia contrasta o artesanal e o industrial

A artista Edith Derdyk pesquisa a geometria descritiva para refletir sobre modernidade e produção

Contrastes e paradoxos são explorados em Alfabeto da Reta, exposição da artista e escritora Edith Derdyk, em cartaz no Centro MariAntonia da USP até 15 de setembro. As obras – uma instalação site-specific, uma série de trabalhos costurados, um objeto escultórico, impressões fineart e um livro de artista – partem da ideia da linha para contrastar a produção industrial e a artesanal, o impessoal e o subjetivo, o concreto e o abstrato. Uma série de eventos, como o lançamento do livro de artista Épura e a performance Bookscapes, também acontece ao longo da mostra. O texto crítico é de autoria da curadora e crítica de arte Sylvia Werneck.


Edith, que tem o desenho no cerne de sua pesquisa artística, passou a explorar a geometria descritiva em 2020. Essa técnica foi desenvolvida no século 18 pelo matemático francês Gaspar Monge (1746-1818) e forneceu a base para a criação do desenho técnico. A inovação facilitou a visualização e sistematização de objetos para consolidar o modelo de produção da Revolução Industrial. “Estudei, investiguei e fabulei sobre esse desenho, que foi uma razão insana motivadora de todo um tipo de produção de vida”, comenta a artista. “Depois me dei conta de que a Revolução Industrial começou com a indústria têxtil. Como eu sempre trabalhei com linha, pesquisei essa atividade fabril ao lado da atividade manual da costura e do bordado.”
A arte têxtil é diretamente incorporada nas obras, que levam os nomes de formulações de Monge. Na série Épuras, Edith traz complexas tramas feitas por máquinas de costura industriais e, perturbando a ordem, estão costuras feitas à mão. “A atividade têxtil é uma das mais arcaicas do mundo. Tudo é trama. Até a palavra ‘texto’ tem sua origem em ‘tecer’. Quando se pensa na costura, na trama, remete-se a atividades ancestrais com um tempo de feitura muito diferente da atividade industrial. É um jogo de velocidades, da atividade fabril e febril”, analisa.

Eventos vão complementar o diálogo entre os paradoxos presentes. A programação conta com rodas de conversa com Edith Derdyk e Sylvia Werneck, on-line e presencial, nos dias 2 de julho e 17 de agosto, respectivamente. No dia 17, será lançado também o livro de artista Épura, impresso em serigrafia e com tiragem limitada de cem exemplares. Nos dias 13 e 14 de setembro, Derdyk vai se unir ao videoartista Rodrigo Gontijo e ao compositor Dudu Tsuda para a performance de live cinema Bookscapes. “Vamos interagir com manipulações de objetos e desenhos gerados, projetados e editados ao vivo, e Dudu Tsuda vai criar uma sonoridade conectada com os ritmos e dinâmicas que vamos construir”, Edith explica.\
Edith Derdyk realiza exposições coletivas e individuais desde 1981, no Brasil – na Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro, para citar alguns – e internacionalmente. Alfabeto da Reta é a primeira colaboração entre a artista e Sylvia Werneck. Crítica de arte e curadora independente, Sylvia pesquisa arte contemporânea com foco em arte da América Latina. “Apesar das diferentes materialidades, todas as obras versam sobre o mesmo assunto: a questão da linha. Elas têm a mesma gênese, estabelecem uma conversa”, opina a crítica de arte. “A linha está em tudo. Ela é onipresente e, por isso, às vezes nem a percebemos.”
Por meio de contrastes, Edith infiltra e rompe os equilíbrios. O paradoxo é visível no objeto escultórico Rota de Colisão: pilhas de papel são “perturbadas” por pedaços de carvão, que criam volumes. “O papel A4 é um papel ‘oficial’. Eu criei os ruídos usando carvão, o primeiro combustível fóssil, e utilizado para as primeiras indústrias”, aponta a autora, que referencia os recursos energéticos não renováveis na obra.

Em Rotatividade, quatro impressões fineart acompanhadas de um livro de mesa, as linhas ganham destaque ao se referir ao movimento de rotação da máquina industrial. A sobriedade cromática – todas as obras são em preto e branco – enfatiza qualquer desvio.
A maior das obras é a instalação que dá nome à exposição: bastidores de tecelagem de 12 metros de comprimento com grids que se sobrepõem em seu movimento. O maquinário foi feito em colaboração com Guilherme Rossi, do estúdio Mataamp, e levou quatro meses para ser concluído. Mesmo com os projetos e maquetes, a artista descreve a montagem como uma “aventura”. “É um trabalho de grande dimensão e precisei de pessoas para ficar esticando a linha, e a linha sempre provoca uma surpresa”, afirma. “Ela requer muita atenção e você depende de um ritmo. Entra-se em um clima meio repetitivo, do mesmo gesto. É uma montagem que significa o próprio gesto que estou querendo convocar.”

A exposição Alfabeto da Reta, de Edith Derdyk, está em cartaz até 15 de setembro, de terça-feira a domingo e feriados, das 10h às 18h, no Centro MariAntonia da USP (Rua Maria Antônia, 258, Vila Buarque, em São Paulo, próximo às estações Santa Cecília e Higienópolis-Mackenzie do Metrô). Entrada grátis. Mais informações estão disponíveis no site do Centro MariAntonia da USP.

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