O impulso de colecionadores particulares para a arte latino-americana

O impulso de colecionadores particulares para a arte latino-americana

Mari Carmen Ramírez e o impulso dos colecionadores particulares à arte latino-americana

 O curador de Arte Latino-Americana do Museu de Belas Artes de Houston conta a origem da ligação da instituição com Malba, onde hoje exibe uma grande exposição sobre Gyula Kosice.
 E analisa o papel da pesquisa e do mercado para destronar mitos.
 “As instituições reagiram ao papel dos catadores”, destaca.

Uma longa tradição de colaborações enquadra a relação entre Malba e o Museu de Belas Artes de Houston, que inclui a grande exposição dedicada a Gyula Kosice. Intergalactico, inaugurado este mês no Malba, tem curadoria de Mari Camen Ramírez, curadora de Arte Latino-Americana do Museu de Houston e Diretora do Centro Internacional para as Artes da América (ICAA), que compartilha este projeto com María Amalia García, Curador-chefe de Malba.

Desde o início, a colaboração entre ambas as instituições centrou-se em artistas de vanguarda latino-americanos. A exposição Xul Solar, exposta em ambos os museus, foi um avanço nesse sentido. Depois veio Gego, a retrospectiva de Carlos Cruz Diez (2010-2011), a exposição de Antonio Berni que aqui e ali foi o eixo da série Juanito e Ramona e agora Kosice.
Vista da "Cidade Hidroespacial" de Kosice em Malba. Vista da "Cidade Hidroespacial" de Kosice em Malba.

A arquiteta de tudo isso é Mari Carmen Ramírez, alguém que desde os anos 80 se esforçou para dar a conhecer a complexidade da arte latino-americana nos Estados Unidos através de uma intensa divulgação que visava desmantelar estereótipos e mal-entendidos em torno de muitos dos seus grandes artistas. A maioria deles desconhecidos e indignos. Conversamos com ela sobre essas questões durante sua estadia em Buenos Aires, por ocasião da abertura da exposição.

-A ligação entre o Museu de Belas Artes de Houston e Malba tem sido frutífera que existe, concorda?

-Pode-se dizer que a coincidência entre o nascimento de Malba e a inauguração do Centro Internacional de Artes Americanas (ICAA) nos Estados Unidos foi o ponto de partida. O MFAH é um museu enciclopédico que completa cem anos este ano, mas foi o primeiro a estabelecer um departamento curatorial e um centro de pesquisa focado nas artes da América Latina e nas comunidades latinas dos EUA, bem como um centro de pesquisa dos EUA. artes das Américas. Fui o curador fundador daquele departamento, a convite do Dr. Peter Marzio, que na época era diretor do museu. Um visionário de origem italiana que tinha uma predisposição especial para tudo o que fosse arte latina. Foi também um dos primeiros diretores norte-americanos a viajar extensivamente pela América Latina; Conheceu todos os diretores, curadores e agentes da época e também ficou fascinado pelo Rio da Prata. A certa altura ele quis fazer uma exposição de mestres do Rio da Prata, estou falando dos anos 80. Foi assim que entrei em contato com ele. Ele me contratou para fazer uma consultoria naquela exposição. Então eu era muito próximo do Marcelo Pacheco (ainda sou amigo e colega) que foi o primeiro curador do Malba. Tivemos uma colaboração estreita, aliás sempre tive uma relação muito próxima com ele. Estamos ligados por interesses em questões relacionadas à curadoria, à vanguarda latino-americana e à arte latino-americana em geral.

-Entendo que Marcelo Pacheco teve um papel importante no surgimento e desenvolvimento do ICAA.

-Por certo. Quando criamos tínhamos a ideia de fazer conferências, simpósios, palestras de artistas, algo assim. Mas o Dr. Marzio queria algo que tivesse um efeito transformador no campo da arte latino-americana. Estamos falando do ano 2000-2001, quando o campo da arte latino-americana nos Estados Unidos ainda era incipiente. O aparato acadêmico que temos hoje não existia: mais de uma centena de pessoas escrevem teses de doutorado sobre arte latino-americana. Naquela época, apenas algumas universidades lidavam com a América Latina. Marzio considerou que era uma oportunidade para o MFAH fazer algo que teria um impacto para além das suas paredes. Por isso, convocamos aqueles que sabiam algo sobre a arte latino-americana e latina nos Estados Unidos.
“Casa Colonial”, de Xul Solar. / Cortesia Malba."Casa Colonial", de Xul Solar. / Cortesia Malba.

Basicamente curadores e historiadores de arte e ocasionalmente diretores de museu. Nos reunimos e começamos a discutir que tipo de projetos poderiam ser promovidos. Surgiu o tema dos arquivos, muito quente naquela época, ligado à necessidade de preservar a memória de como foram os processos da arte do século XX e da arte contemporânea na América Latina. Todos começaram a sonhar em adquirir arquivos importantes. Mas também surgiram outras questões impossíveis de ignorar. Os arquivos exigem infraestrutura, pessoal especializado: um projeto dessa natureza ultrapassava as dimensões de uma entidade dentro do museu.

Estávamos discutindo como desenvolver um projeto de arquivo e foi Marcelo Pacheco quem me deu a chave. “Vejam o que está acontecendo na área tecnológica para que não seja necessário adquirir ou coletar arquivos”, observou. Ele esteve atento a todo o processo e também foi uma pessoa central nesse debate aqui na Argentina.

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