Eduardo Costantini, o filantropo argentino que revolucionou a arte latino-americana
O empresário Eduardo Constantini fala em entrevista à EFE, no dia 5 de junho de 2024, no Museu Malba, na cidade de Buenos Aires (Argentina). EFE/Juan Ignácio Roncoroni
Buenos Aires (EFE).- Aos 22 anos, Eduardo Costantini tinha três filhos, trabalhava, estudava Economia e quando chovia saía de bicicleta para vender lenços. Hoje é o fundador do Malba, museu que abriga o melhor acervo de arte latino-americana do mundo, e o desenvolvedor de Nordelta, cidade nos arredores da capital argentina considerada um modelo de urbanismo moderno.
Constantini (Buenos Aires, 1946) sempre foi guiado por uma firme determinação de seguir em frente. Vontade, consistência e trabalho baseado na ética são a sua forma de enfrentar os desafios.
“Comecei do zero. Trabalhei enquanto estudava. Os dias foram longos, mas eu tinha o propósito de seguir em frente”, disse este empresário e filantropo argentino, conhecido tanto pelo seu sucesso no mundo dos negócios como pelo seu notável trabalho como mecenas das artes, em entrevista à EFE.
Em 2001, Costantini fundou o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba), instituição cultural dedicada a colecionar, preservar e divulgar a arte latino-americana desde o início do século XX até os dias de hoje.
“Comecei a colecionar quando tinha vinte e poucos anos. Durante mais de uma década comprei obras de acordo com o que gostava, mas não tinham a qualidade artística para estar num museu.”
Mas em 1980 conheceu Ricardo Estévez, um grande especialista em arte que lhe ensinou a colecionar e que se tornou seu mentor.
Aprendendo a colecionar arte para Eduardo Costantini
Decidiu então focar na arte latino-americana e foi reunindo um acervo de grande qualidade com artistas como Frida Kahlo, Diego Rivera, Joaquín Torres-García, Antonio Berni, Xul Solar, Tarsila do Amaral, Roberto Matta e Wilfredo Lam.
“Vi um terreno estratégico em Buenos Aires e decidi que era melhor montar um museu do que construir um prédio e fazer negócios”, diz.
A localização do Malba numa zona exclusiva da cidade, a qualidade da coleção permanente, a disponibilidade de recursos financeiros e o profissionalismo da sua equipa são os grandes pontos fortes do museu, destaca o seu fundador.
“O desafio mais importante é o financiamento. Na cultura latino-americana há uma baixa percepção de apoio aos museus e geralmente não existe uma legislação fiscal favorável”, lamenta.
O empresário Eduardo Constantini posa durante entrevista à EFE, no dia 5 de junho de 2024, no Museu Malba, na cidade de Buenos Aires (Argentina). EFE/Juan Ignácio Roncoroni
O empresário Eduardo Constantini posa durante entrevista à EFE, no dia 5 de junho de 2024, no Museu Malba, na cidade de Buenos Aires (Argentina). EFE/Juan Ignácio Roncoroni
Na verdade, Constantini financia com seu próprio bolso Malba Puertos, uma extensão do museu com um orçamento de dez milhões de dólares em Puertos Escobar, uma urbanização moderna que está construindo no nordeste da província de Buenos Aires.
A coleção Malba abrange desde o modernismo latino-americano e contém obras selecionadas de mestres da arte latino-americana. Mas o museu também desenvolve programas educativos e possui áreas especificamente dedicadas ao cinema e à literatura.
“A seleção é baseada na qualidade, nos grandes mestres da arte latino-americana e em suas melhores obras, aquelas que romperam com a tradição. Cada vez que aparece uma peça superlativa procuro comprá-la”, confessa.
Malba na promoção da arte latino-americana
Costantini orgulha-se da influência de Malba na promoção da arte latino-americana.
“No início a visibilidade era muito menor, mas a arte latino-americana cresceu em presença e valorização. Hoje, as grandes obras da arte latino-americana dialogam em pé de igualdade com as dos grandes artistas internacionais.”
Neste mundo globalizado, Constantini gostaria de ver mais valor para as culturas nativas e a importância das mulheres na arte, para que “haja igualdade de oportunidades e visibilidade, e a qualidade do trabalho prevaleça”.
Para este proeminente filantropo, os museus são um local acolhedor, “um refúgio natural onde os valores culturais podem ser exaltados através da arte”.
O empresário Eduardo Constantini fala em entrevista à EFE, no dia 5 de junho de 2024, no Museu Malba, na cidade de Buenos Aires (Argentina). EFE/Juan Ignácio Roncoroni
Convencido de que o ser humano tem uma responsabilidade social, Eduardo Costantini doou a sua coleção particular ao Malba no mesmo ano da sua fundação.
“Os museus criam comunidade, educam e enriquecem ao interagir com o público. É uma forma de aproveitar o acervo de uma forma mais significativa”, confessa.
Costantini acredita que a tecnologia deve ser utilizada para melhorar os propósitos das instituições e está convencido de que a inteligência artificial aplicada à arte nunca substituirá o ser humano.
“Existem impressões humanas que a inteligência artificial não consegue replicar. Não creio que perderemos a nossa identidade como pessoas”, afirma Costantini, para quem a vida é “uma construção contínua” e o sucesso é “viver de acordo com valores”.
“O objetivo é crescer sempre, ser ativo e entusiasmado”, finaliza.