MAIOR MUSEU DA AMÉRICA LATINA, MON TEM PATRONOS QUE DOAM ATÉ R$ 30 MIL POR ANO E PODEM OPINAR SOBRE COMPRA DE OBRAS; ENTENDA
Outros grandes museus, como o Tate Modern, em Londres, e o Louvre, em Paris, têm programas semelhantes. Modelo adotado pelo Museu Oscar Niemeyer (MON) é inspirado nos 'mecenas' do período renascentista. Diretora presidente fala sobre criação do programa de patronos do MON Doar até R$ 30 mil por ano para que um dos principais museus do Brasil, e o maior da América Latina, possa adquirir novas obras de arte – e ainda poder opinar na escolha das peças. É o que o Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, proporciona aos membros do programa "Sou Patrono". A diretora presidente do MON, Juliana Vosnika, explica que a iniciativa se inspira na figura dos chamados "mecenas", do movimento cultural renascentista dos séculos XIV a XVII. O modelo de financiamento foi sendo aperfeiçoado e hoje é adotado por museus do Brasil e do mundo. ✅ Siga o canal do g1 PR no WhatsApp ✅ Siga o canal do g1 PR no Telegram No Renascimento, ficaram conhecidos como "mecenas" homens com poder e dinheiro que financiavam a produção de artistas e escritores, como explica Milena Mayer, historiadora, museóloga e professora na Universidade Estadual do Paraná (Unespar). Os mecenas passaram a ser considerados "patrocinadores generosos, almas movidas pelo amor à arte, protetores das letras e das ciências", acrescenta a historiadora. Museu Oscar Niemeyer MON Mariah Colombo/g1 Seis séculos depois, o Museu Oscar Niemeyer vê o incentivo como uma forma de valorização da arte. Desde que foi criado em 2015, o programa do MON adquiriu 82 obras de arte com recursos do patronato. Atualmente, a instituição tem cerca de 50 patronos. "A gente resolveu criar esse movimento para que fosse um movimento de valorização da cultura e da arte. Criamos para que ele fosse abraçado por pessoas que realmente se importam com isso e que quisessem, de alguma forma, contribuir para incrementar o acervo do Museu", explica Vosnika. Grandes museus como o Tate Modern, em Londres, e o Louvre, em Paris, têm programas semelhantes.
No Brasil, entre os exemplos estão a Pinacoteca e o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), ambos em São Paulo. Leia também: Política: Deputados estaduais aprovam projeto que autoriza acordos entre Ministério Público e promotores que cometeram infrações VÍDEO: Jovem sobrevive após ser atropelado e levar tiros, em Foz do Iguaçu Curitiba: Acidente entre dois ônibus com passageiros deixa feridos Museu Oscar Niemeyer estará aberto no feriado Lucas Pontes/MON Neste texto você vai ler: Como funciona o Programa Sou Patrono? Como o programa ajuda a criar um sentimento de pertencimento ao Museu O patrono que pediu doações a museus como presente de aniversário Curitiba na rota cultural brasileira Qual o perfil dos patronos? Quem eram os mecenas e como surgiram? Como funciona o Programa Sou Patrono? Podem participar pessoas físicas e jurídicas. Por meio de uma contribuição anual, que varia de R$ 10 mil a R$ 30 mil, os patronos têm direito a uma série de contrapartidas, que variam de acordo com a faixa de contribuição. Entre os benefícios estão: ter o nome gravado nas dependências do museu, participar de visitas mediadas exclusivas com curadores e artistas, catálogos produzidos pelo MON e, a mais notável delas, participação na escolha de obras a serem adquiridas pelo programa. Obra da artista paranaense Lilian Gassen, adquirida por meio do programa Sou Patrono Marcello Kawase No caso da escolha de peças, o Conselho Cultural do MON define um rol de obras, as apresenta em evento aos patronos, que votam qual deve ser comprada com o dinheiro arrecadado pelo programa para integrar o acervo do museu. A escolha das obras apresentadas, segundo Vosnika, considera peças que complementariam lacunas no acervo do MON. "Não é só a questão financeira, mas também esse engajamento e esse reconhecimento da sociedade com esse equipamento tão importante que é o Museu Oscar Niemeyer", diz. QUIZ: Você conhece o Museu Oscar Niemeyer? O patrono Waldir Simões de Assis reconhece também que a participação no programa representa novos cenários para a instituição cultural. "A questão do patronato realmente é uma coisa fundamental para ajudar a estrutura do museu a funcionar, a criar novas possibilidades de aquisição para o seu acervo e criar projetos mais ambiciosos", define. O patrono Waldir Simões de Assis Waldir Simões de Assis/Arquivo Pessoal Sentimento de pertencimento Patrono fala sobre participação no programa do MON Segundo a diretora presidente, a participação na escolha de obras para o acervo cria uma sensação de pertencimento. "Quem dá o voto de quais obras vão ser adquiridas são os próprios patronos. Isso cria essa ligação muito forte com o museu", reforça. Além disso, o projeto representa a possibilidade de aumentar a diversidade do acervo do MON.
"Nós ampliamos o nosso marco referencial, não só para os artistas paranaenses e brasileiros, mas tambémcom um enfoque menos eurocêntrico e com um olhar bem importante para a arte africana, asiática e latino-americana", afirma. Nos últimos anos, o acervo do Museu Oscar Niemeyer quintuplicou de tamanho e hoje conta com mais de 14 mil obras de arte. Em 2023, as peças expostas pelo MON foram vistas por mais de 503 mil visitantes. De setembro de 2022 a fevereiro de 2024, 78 obras adquiridas por meio do programa Sou Patrono foram expostas ao público. Doações a museus como presente de aniversário Exposição no Museu Oscar Niemeyer Marcello Kawase Segundo Vosnika, outra pessoa incentivou a criação do programa foi o patrono benemérito José Olympio Pereira, que, junto com a esposa Andrea, coleciona obras de arte contemporânea brasileira. Em um aniversário, José Olympio pediu que os amigos fizessem contribuições aos museus dos quais ele fazia parte. "Foi uma iniciativa bem interessante e isso também nos animou", relembra a diretora presidente. Ao lançar o Sou Patrono, o MON convidou José Olympio para apresentar o programa a possíveis interessados. Ao fim da palestra, conforme Vosnika, o colecionador declarou que seria o primeiro patrono do Museu. Qual o perfil dos patronos? Juliana Vosnika, diretora presidente do MON AEN De acordo com a diretora presidente, o perfil entre os patronos é bem variado. Há arquitetos, empresários, advogados e outras pessoas de diversas profissões. Porém, todas estão conectadas por algo em comum: o interesse pela arte e a vontade de ampliar o conhecimento na área. "Desde o começo, o número de pessoas participando do programa cresceu. As pessoas começaram a entender também a importância de estar mais presentes no museu. Então, às vezes, mais do que o apoio financeiro efetivamente, é a presença e o comprometimento. Isso é abrir o museu para a sociedade também", declara. Curitiba na rota cultural brasileira Pátio das esculturas, no Museu Oscar Niemeyer Marcello Kawase A ampliação do acervo do MON nos últimos anos e a busca por inovação ajudaram a consolidar a imagem do museu e a fortalecer Curitiba como um polo cultural no Brasil, como afirma o patrono Waldir Simões de Assis. "A gente nota que o Museu Oscar Niemeyer foi agente de transformação da nossa cultura a partir da introdução desse museu super democrático, aberto à população. Por exemplo, dentro da agenda do museu nos últimos anos, você vê exposições que poderiam estar no Pompidou, no Tate Modern, e elas estão em Curitiba, à disposição da nossa população", destaca. Entre as exposições citadas pelo patrono estão a do artista chinês Ai Weiwei e a do escultor britânico Tony Cragg. "O Museu Oscar Niemeyer está perfeitamente alinhado com tudo que os grandes museus fazem. É um museu que poucos países têm como esse, então nós temos que tratar com carinho. A participação da sociedade é fundamental para a continuidade e a preservação dos valores da arte paranaense, e para o atrativo da arte internacional e nacional para dentro do nosso Museu", incentiva. Quem eram os mecenas? La Tribuna degli Uffizi (1772-77), de Johann Zoffany Royal Collection do Reino Unido A historiadora, museóloga e professora da Unespar Milena Mayer explica que o termo mecenas se refere a "protetores das artes e das letras" e teve origem na figura de Caio Cílnio Mecenas, um estadista romano que viveu entre 68 a.C. e 8 d.C. Segundo a professora, Mecenas era conselheiro do Imperador Augusto e agiu em prol da cultura, promovendo artistas e obras. "É interessante notar que especialistas no assunto identificam que a relação entre o Estado romano e as artes apresentava um viés político. Ou seja, o prestígio dos artistas de certa forma ajudaria a legitimar o Império e seu imperador", explica. De acordo com a professora, o trabalho desenvolvido por mecenas ainda tem reflexo nos dias de hoje. "É evidente que o financiamento e o apoio dos mecenas foram fundamentais para que tenhamos acesso hoje a inúmeras obras capazes de emocionar e instruir pessoas com diferentes preferências artísticas", conta. Mayer destaca ainda que, além de contribuições individuais, no Brasil a prática de mecenato foi institucionalizada por meio de leis de incentivo, entre elas, a Lei Rouanet. Para ela, os programas de patronato, associados a outras iniciativas e modalidades de patrocínio, são importantes para a sustentabilidade financeira de espaços culturais. "Acredito que todas as modalidades de patrocínio, seja o apoio da arte pela arte ou mesmo através do viés do marketing cultural, são iniciativas importantes para tentar garantir sustentabilidade financeira, uma tarefa desafiadora para instituições sem fins lucrativos, como devem ser os museus", defende. VÍDEOS: Mais assistidos do g1 Paraná Leia mais notícias no g1 Paraná.
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