Artes Plásticas Por Francisco Alambert 2

Artes Plásticas Por Francisco Alambert 2

A busca por um eu latino-americano

Em grande medida, esta divisão entre países baseia-se na maior ou menor relação com a cultura indígena herdada. Dessa forma, países como Peru, Equador, Bolívia, Paraguai e Guatemala, em grande parte marcados pela herança nativa pré-colombiana e resistentes às influências externas, estariam em posição oposta às nações abertas do Cone Sul, como a Argentina , Chile e Uruguai, sob constante influência estrangeira. Esses tipos ideais, como qualquer tipologia básica, servem apenas para iniciar a reflexão, pois se considerarmos os casos do México e do Brasil eles são claramente mais problemáticos.

No exemplo mexicano, é evidente, como destaca a anedota de Leopoldo Zea, que tanto a presença da cultura nativa como a influência constante da estrangeira (e o uso criativo que ela pode proporcionar) ocorreram em períodos diferentes. No caso brasileiro, acontece o mesmo, na medida em que se trata de uma nação de proporções continentais, com presença histórica de centenas de grupos indígenas, à qual se somou a herança de sucessivas arrecadações de escravos africanos e imigrantes de todo o mundo. partes do mundo.

Por outro lado, as coisas ficam ainda mais complicadas quando nos referimos ao Caribe e grande parte da América Central. No caso das Caraíbas, a presença e o tipo de colonização (ou ocupação) europeia criaram uma circunstância cultural específica que dificultou uma forte relação cultural com o resto da América. Na América Central, a produção cultural foi pressionada pela influência mexicana e norte-americana, como nos casos de Porto Rico e Panamá.

Qualquer classificação que busque unificar a história dos países ou regiões latino-americanas está fadada à crítica e à insatisfação. Mas evitar este caminho também significa recusar compreender e avaliar diferenças e semelhanças. De qualquer forma, é necessário um levantamento, embora sempre incompleto, e o que aqui se apresenta destaca a arte produzida no México, na Argentina, no Brasil, no Uruguai, na Venezuela, na Colômbia e em Cuba, especialmente se for considerado o século XX.

Nestes países, e nas suas tradições, encontram-se com maior veemência os temas que representam de forma abrangente os problemas recorrentes das artes modernas nas Américas: a relação conflituosa e criativa entre a influência europeia e a tradição pré-colombiana (intensa no caso mexicana e colombiana). ); a apropriação dos parâmetros europeus e suas alterações (nos casos argentino e uruguaio); as concepções e desenvolvimentos radicais e criativos do modernismo (especialmente significativos no Brasil e na Venezuela); e a questão da política e da resistência, seja face ao imperialismo norte-americano, seja devido à dissidência ou tensão face ao comunismo (ambas típicas do caso cubano).

Tudo isso fala do que diferencia os países da América Latina. Mas também há muita coisa que os iguala ou os identifica. O latino-americano é, na sua origem, o europeu ao serviço da expansão colonial capitalista, ou é o outro transplantado, integrado, escravizado ou massacrado por esse mesmo processo. Para o colono transplantado e para o escravo, a América é um lugar estranho. Para os nativos do lugar, o extraordinário vem do universo que a colonização impôs ao seu mundo.

Como explicou magistralmente o teórico do cinema brasileiro Paulo Emílio Salles Gomes, os latino-americanos, especialmente desde a sua independência, colocam-se na condição específica daqueles que, não sendo nem europeus nem norte-americanos, “e desprovidos de cultura original”, nada é “estrangeiro”. para eles, e tudo é. A dolorosa construção de nós mesmos se desenvolve na dialética rarefeita entre o não ser e o ser outro. Neste contexto, as artes visuais tiveram e têm um papel central. A sua história é uma longa batalha nessa condição dependente, que procura uma identidade e autonomia em igualdade de condições com os seus antigos (e novos) dominadores.

A arte aqui tratada, não de forma estritamente cronológica, pois também está estruturada em temas, é sobretudo arte culta, ou erudita. Nesta visão panorâmica não aparecem as gigantescas histórias da arte pré-colombiana, popular ou indígena, exceto em referências rápidas. Mais do que oferecer um resumo da arte no continente, o objetivo é buscar seus momentos decisivos, aqueles em que a tensa relação entre o estrangeiro e o interno, o estrangeiro e o nativo, torna-se genuinamente criativa, ou seja, direciona uma emancipação que deve ser entendida tendo em conta o desejo dos latino-americanos de ter a sua arte e de ter a arte do mundo como sua.

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